Futuro do Oceano
O oceano é o grande regulador do clima: produz mais de metade do oxigénio que respiramos, absorve 90% do excesso de calor proveniente dos gases com efeito de estufa e retém mais de um quarto do carbono emitido pelas atividades humanas. Ainda assim, encontra-se sob diversas ameaças, como a sobrepesca, a mudança climática, a acidificação, a destruição de habitats e a poluição, que colocam em risco a biodiversidade marinha, pondo em causa o meio de subsistência de milhares de milhões de pessoas em todo o mundo.
Só com decisões baseadas na melhor ciência oceânica é possível fazer face a estes desafios.
Alto mar: o mar de ninguém
Evidências científicas confirmam a urgência da proteção de pelo menos 30% do oceano até 2030 para garantir a preservação da vida marinha. Este objetivo não pode ser atingido se não incluirmos as áreas que ficam para além dos limites da jurisdição nacional.
O alto mar fica fora das chamadas zonas económicas exclusivas. Cobre metade do planeta Terra, mas apenas 1,2% está protegido. A falta de vigilância e legislação deixa estes ecossistemas marinhos expostos a ações humanas como a sobrepesca, a mineração do mar profundo, a poluição ou as alterações climáticas.
As Nações Unidas já deram o primeiro passo e estão empenhadas na criação de medidas sólidas e robustas para proteger o alto mar através de um tratado que está em negociação.
Portugal tem desempenhado um papel importante de mediação diplomática, até porque “temos todo o interesse em garantir que as áreas para além da jurisdição nacional são utilizadas de forma sustentável e com isso ajudamos a proteger e a preservar o mar nacional”, explica o consultor permanente da Missão de Portugal nas Nações Unidas, Sérgio Carvalho.
Proteção do mar português
A Reserva Natural das Ilhas Selvagens na Madeira foi criada há 50 anos e é considerada o ecossistema mais intacto do Atlântico Norte.
A riqueza da biodiversidade marinha deste capital natural foi estudada pela comunidade científica em expedições que se mostraram determinantes para fundamentar a decisão, tomada pelo Governo Regional da Madeira, de aumentar a reserva e criar a maior área marinha com proteção total da Europa e de todo o Atlântico Norte.
A reserva terá uma área total de 2.677 km2, cerca de 28 vezes maior do que a atual, e passará a ter proteção total, ou seja, será uma zona onde não pode haver atividades extrativas como a pesca e apenas são permitidas atividades como o turismo e a investigação científica ou a educação ambiental.
Esta decisão reforça o compromisso assumido por Portugal de aumentar consideravelmente as suas áreas marinhas protegidas, e assim contribuir para a implementação da estratégia da biodiversidade da União Europeia para 2030.
Saber como restaurar oceanos e mares usando a ciência oceânica vai estar em discussão no Encontro Ciência 2022, com oradores de referência nacional e internacional, como Carlos Duarte, Amr Zakaria e Sónia Cruz.
A sessão plenária dedicada ao oceano dá início ao último dia do Ciência 2022, às 9h30 no Auditório 1.